
Há um tempo atrás li este texto de Lecticia Maggi no facebook sobre um momento do seu cotidiano em Londres. Adorei e compartilho com vocês!
Por: Lecticia Maggi
Sabe aquela coisa de estudar Humanas e depois ir vender bijuteria na praia?
Pois bem, troquei a praia por Londres. E vem textão.
Trabalho em uma loja de bijuterias personalizadas, em que você pode escrever o que quiser na sua barra: nome da mãe, do pai, do papa. O criador do negócio é tailandês, gay (destaco isso só porque tendo a achar que gays são menos machistas, mas é só um achismo), super legal, engraçado e nos damos muito bem.
Eu atendia clientes, ajudava na montagem das bijus e etcetera, até que aprendi a estampar as letrinhas – meio por conta própria, meio por brincadeira e um pouco pra mostrar que podia fazer.
Explico: é preciso MARTELAR as letras na barra, uma a uma, e pintá-las depois. Mas é muito mais jeito do que força física, e um tantão de concentração. Mindfulness total: errou uma, ferra a barra toda.
Só que o boss achava que só boys podiam fazer isso. Semanas atrás, tivemos o seguinte diálogo:
– Isso é impressionante. Estou muito orgulhoso. Você é a primeira mulher que consegue fazer isso.
– Sério? Mas você já tinha contratado outras mulheres antes?
– Arrr (som de engasgo) No…Você vai achar que é machista da minha parte, mas achava que isso era muito tough (duro) pra mulher, but you are tough enough (mas você é durona o suficiente).
É.
Pra mim, havia uma clareza: “É preciso ter pênis para estampar as letrinhas? Não?! Que bom, então posso também.”
Fui promovida a artesã. Meu chefe dá o nome de jewellery alguma coisa para o meu novo cargo, mas acho artesã mais legal.
Nesta semana, ele demitiu o irlandês que não estava mandando bem nos paranauê da martelagem (mas homem é contratado direto porque ia conseguir martelar, é óbvio, como não?!). Abriu duas vagas. Chamou uma sueca e uma portuguesa para fazerem teste. Veio, animado, me contar:
– Imaginava ter uma loja só de homens, mas aí veio você…
– Eu vim e estraguei seus planos. É isso…?! (RISOS)
– Não, foi ótimo, você me mostrou que vocês podem fazer isso.
É.
Fiquei encarregada de ensinar as duas. Chefe perguntou, depois, o que achei delas. Disse que as minas eram great. Mentiria, se preciso fosse, só para dar mais tempo delas aprenderem. Mas não foi necessário: as duas martelam muito! Uma é mais ágil, outra mais perfeccionista e, o melhor, ambas vão ficar. E eu tô orgulhosíssima da nossa lojinha de meninas marteladoras.
Lecticia Maggi é jornalista, está morando em Londres há um tempinho, matando a sua vontade de ter uma experiência internacional. E é uma amiga queridíssima!